Judeus no mundo

TUNÍSIA


Há muitas histórias sobre a data e modo da chegada dos judeus na Tunísia. Algumas dizem que eles participavam ativamente do comércio da região bem antes da destruição do Primeiro Templo. Evidências arqueológicas indicam que o país abrigou uma rica vida comunitária judaica por mais de 2.300 anos. Como evidências são apresentados livros e até uma sinagoga bem conservada encontrada em Hamman Lif.

 

Os fenícios, povo de origem semita, foram a primeira civilização a se estabelecer na região. Desde o século XII a.E.C. fundavam colônias ao longo da costa da África que os ajudavam naquilo em que se saíam melhor, o comércio marítimo. A expansão dessas atividades, em 814 a.E.C., levou os habitantes do reino de Tiro, na Fenícia, a fundar Cartago (localizada na atual Tunísia). A cidade rapidamente se converteu numa potência marítima, dominando o comércio mediterrâneo.

 

A versão mais aceita sobre a origem de judeus na região é que chegaram em 586 a.E.C., época da destruição do Primeiro Templo, por Nabucodonosor II. Apesar de a maioria dos judeus terem sido exilados para a Babilônia, outros se espalharam pelo norte da África. Esses judeus teriam se juntado a outras famílias que viviam com os fenícios, contribuindo para o crescimento e desenvolvimento de Cartago.

 

Quando Roma vira uma potência militar, ela desafia Cartago e sua hegemonia no Mediterrâneo. Cartago perde a guerra (as Guerras Púnicas) e é destruída. Tempos depois Cartago é reconstruída como uma cidade romana. Nesta áfrica romana os judeus tinham livre culto religioso e tinham uma situação econômica estável, ou seja, estavam bem de vida. Nos séculos seguintes a comunidade cresceu consideravelmente devido a alguns fatores, entre a eles a vinda de judeus que fugiram da Judéia após as tropas romanas terem abafado a primeira revolta judaica e o exército de Tito ter tomado Jerusalém e destruído o Segundo. Há relatos de que mesmo com a liberdade de culto a vida dos judeus foi muito dura na região durante o governo dos imperadores romanos Vespasiano e Adriano.

 

A situação dos judeus em todo o Império Romano piorou sensivelmente quando, em 392, o cristianismo foi declarado religião do Estado e foram promulgadas as primeiras restrições legais aos judeus. Os judeus foram aos poucos sendo mais discriminados, chegando a ponto de não poderem construir mais sinagogas. Alguns judeus eram até torturados e obrigados a se converterem.

 

Passou-se o tempo e o Império Romano caiu. Os reis bárbaros dividiram todo antigo Império Romano em vários reinos. Os vândalos (de origem germânica) se estabeleceram na África do Norte. Durante a dominação vândala, todas as medidas discriminatórias contra os judeus foram revogadas e a comunidade judaica viveu mais um período de paz. Esta paz durou pouco, pois os bizantinos (império romano do oriente) reconquistou a região e retomou tudo aquilo que os vândalos tinham lhes tirado.

 

Perseguidos nos territórios sob hegemonia bizantina, os judeus deixaram as cidades grandes e foram para as regiões montanhosas e para o deserto, se misturando com as populações berberes, muitas das quais se converteram ao judaísmo.

 

No séc. VII surge o Islã. Em 632, após a morte de Maomé, seus seguidores iniciam o processo da expansão muçulmana, conquistando a região do Magrebe em 642.

 

Em certas regiões do norte da África, os exércitos árabes enfrentaram uma longa e feroz resistência por parte de tribos berberes convertidas ao judaísmo. Após uma longa luta, os conquistadores árabes acabaram tomando o poder e obrigaram a população pagã a se converter ao islamismo.

 

Apesar disso, em todos os territórios dominados pelos muçulmanos estes concederam aos adeptos do monoteísmo (judeus e cristãos) o direito de praticar sua religião, sob a condição de pagarem uma taxa por “cabeça”. No entanto eram considerados de segunda classe e dependiam muito do atual governador do local. Apesar disto, a situação deles foi melhorando com o passar do tempo, os governantes chegaram até a permitir o estabelecimento de academias de estudos. O tempo foi passando e os judeus voltaram a dominar o comércio e até a monopolizar alguns produtos vendidos na região. A paz e a prosperidade acabaram por atrair judeus italianos e espanhóis para a região.

 

Com a troca de dinastias uma mais fanática tomou o poder, que acabou por expulsar os judeus da região. Em 1269 uma dinastia mais tolerante entra no poder, e novamente os judeus têm sua liberdade de culto permitida, mas algumas medidas discriminatórias continuaram como a de usar roupas diferenciadas. No século XVI, os judeus se viram no meio da luta entre os turcos e espanhóis, na disputa pelo poder. Quando os espanhóis tomaram o poder na Tunísia, em 1535, numerosos judeus foram presos e vendidos como escravos para muitos países cristãos. Após o contra-ataque dos turcos sobre os espanhóis, em 1574, a Tunísia tornou-se uma província do Império Otomano, passando a ser governada por uma dinastia muçulmana indicada pelo poder em Istambul: Os Bey.

 

O domínio otomano foi um período de tranqüilidade e ascensão econômica e cultural para a população judaica, que viu aumentar consideravelmente o número de estudiosos, banqueiros e diplomatas. Com a próspera vida dos judeus, o soberano Ahmed Bey permitiu até que estes ocupassem cargos de grande importância política e econômica. Com o tempo o interesse europeu sobre a África aumentava e o interesse dos judeus de viver sob domínio europeu também aumentava. Isso de fato aconteceu quando em 1881 foi estabelecido o Protetorado Francês.

 

A dinastia Bey tinha tomado muito dinheiro emprestado, numa tentativa de ocidentalizar a Tunísia. Além disso, a economia ruíra e o país sofria ataques vindos da Argélia, também dominada pelos franceses. Assim, aos poucos, a França acabou tomando conta da Tunísia. A dominação colonialista foi efetivada com o estabelecimento do Protetorado, que tinha sido combinado com o Reino Unido anteriormente, em troca do reconhecimento da soberania britânica sobre o Chipre.

 

Os judeus da Tunísia acolheram com satisfação o Protetorado, certos de que sua vida só melhoraria daí para diante. Algumas expectativas foram frustradas como a de que não puderam se tornar cidadãos franceses como acontecera na Argélia. Nesta época muitas escolas foram abertas nas cidades de Túnis, Sousse e Sfax.

 

Logo após a Primeira Guerra Mundial, a comunidade judaica, por um decreto de 20 de agosto de 1921, passou a ter um Conselho de Administração. Assim, a população judaica era representada em todas as assembléias do país. Dois anos depois a nacionalidade francesa foi concebida aos judeus e estima-se que 35 mil judeus se naturalizaram entre 1923 e 1956. Essa atitude foi muito contestada por muitos judeus que diziam que estariam se perdendo os valores judaicos. Os laços entre Isael e a Tunísia ficavam cada vez mais fortes, uma federação sionista foi criada e mais outras tantas escolas.

 

A situação dos judeus na Tunísia piorou quando a Alemanha tomou conta do território francês e todos os decretos anti-semitas foram adotados em toda França e seus protetorados. As mesmas leis que obrigavam os judeus a usar estrelas de David nas roupas foram adotadas na Tunísia e cerca de 5 mil jovens judeus foram levados a campos de trabalhos forçados.

 

A situação acabou em 1943 com a vitória dos aliados na África, pouco tempo antes de os alemães implementarem o sistema de aniquilação que já vinham fazendo na Europa. Com a situação acabada os direitos dos judeus foram restabelecidos. Com o surgimento de um movimento nacionalista a independência foi alcançada por Bourguiba (líder do movimento) com ajuda de muitos judeus.

 

Bourguiba ordenou a dissolução de todas as organizações judaicas e a sua unificação em um único órgão, denominado Conselho Religioso Judaico, cujos membros eram indicados por ele. Determinou também a destruição do antigo bairro judeu, incluindo a mais antiga sinagoga de Tunis. O povo em geral o repudiava os judeus e algumas lojas de judeus chegavam a ser apedrejadas. Isso tudo se deve muito ao antigo e atual conflito árabe-israelense que repercute em todo o mundo.

 

Em 1964, o partido de Habib Bourguiba torna-se o único partido legal no país. Nos anos 80, o sul do país é invadido pela Líbia, mas a população repele os ataques. Greves operárias e manifestações demonstram a insatisfação com o governo. Em 1987, o presidente é considerado incapaz de governar e substituído pelo primeiro-ministro Ben Ali, que revoga a presidência vitalícia e restabelece a liberdade partidária. Nas eleições seguintes, seu partido obtém vitória folgada, mas foi acusado de perseguir oposicionistas. A constituição já foi alterada duas vezes para que Ben Ali possa continuar concorrendo à presidência, cargo que ocupa desde 1987. O governo central preocupa-se com o fundamentalismo islâmico e tenta reprimir seus adeptos. O governo é altamente autocrático. Lá a censura é oficial e reporta-se que lá ocorrem violações dos direitos humanos rotineiramente.

 

Atualmente estima-se que existam cerca de 1500 judeus na Tunísia.